Durante muito tempo, Sadaf Rahimi alimentou o sonho de representar o seu país nos Jogos Olímpicos de Londres. Essa aspiração nasceu após, contra todas as probabilidades, Sadaf ter começado a praticar boxe… em Cabul.
“A primeira vez que bati em alguém foi na minha aldeia. Tinha 11 anos. Bati no meu primo. Ele disse que eu atingi-o com tanta força que devia tornar-me uma boxer!”, recorda Sadaf.
Nascida em 1994, começou a treinar boxe após Tareq Azim, vice-presidente da Hope of Mother (HOM), ter lançado, em 2007, a Federação Afegã de Boxe Feminino. Cerca de 25 raparigas começaram a comparecer nos treinos, que decorriam no Estádio de Cabul, o local onde, quando os talibã estavam no poder, muitas mulheres tinham sido vítimas de execuções públicas.
Sadaf e a irmã Shabnam, um ano mais velha, foram das primeiras alunas. “A minha família fugiu para o Irão durante o regime talibã, mas eu ouvi que as mulheres eram mortas aqui. Às vezes, quando estou a treinar sozinha dentro do estádio entro em pânico”, confessa Sadaf.
Inicialmente, o pai estava relutante, preocupado com o facto de um desporto tão masculino pudesse pôr em causa o futuro familiar das filhas. Que homem iria querer casar com uma boxer? Porém, o entusiasmo das filhas pô-lo… ko.
“Ver uma mulher afirmar-se num mundo tão masculino como o do boxe é inédito na história de qualquer república islâmica”, refere Tareq, o primeiro treinador das duas irmãs. “Não treino estas jovens para que se tornem assassinas. Ensino-as a desenvolver confiança e a pensar: ‘Se ele consegue fazer, eu também consigo!’”
A mensagem de Tareq foi apreendida. “Através do meu combate, quero transmitir ao mundo a mensagem de que as raparigas afegãs não são vítimas”, diz Sadaf. No Youtube, ela deixou-se deslumbrar pelos vídeos de Laila Ali, filha do campeão Muhammad Ali e, ela própria também, praticante de boxe nos EUA. “Eu queria provar que as raparigas afegãs podem fazer tudo o que fazem as raparigas do Ocidente”, diz a afegã.
Confrontada com a reprovação social, a condenação religiosa e mesmo as dúvidas de alguns treinadores, Sadaf venceu todas as batalhas domésticas. A sua determinação passou fronteiras e, no início de 2012, recebeu um “wild-card” – um convite especial para casos em que a qualificação não seria possível – para competir nos Jogos de Londres. “Tenho a certeza que vou ser atingida como um saco”, disse. “Só não quero ser atirada ao chão e que me batam depois de me derrubarem. Seria embaraçoso para mim e uma desonra para o Afeganistão.”
A Associação Internacional de Boxe (AIBA) deu-lhe a mão e levou-a para o Reino Unido para que, durante duas semanas, frequentasse um campo de treino na Universidade de Cardiff. “Independentemente de eu ganhar ou não uma medalha, serei um símbolo de coragem assim que eu pisar o ringue”, disse Sadaf.
Esse momento, porém, nunca chegaria. A 18 de julho de 2012, a AIBA decidiu-se pela não participação de Sadaf nos Jogos de Londres, temendo que a afegã pudesse não aguentar combates contra adversárias mais experientes e melhor preparadas.
Quando o sonho de Sadaf caiu por terra, Tareq Azim sentiu-o como que se de o seu próprio sonho se tratasse. “Agora, o mais importante é mantê-la motivada, manter o programa em funcionamento e manter a esperança para aquela nação. É isso o que vamos fazer! A Sadaf quer uma oportunidade para participar nos Jogos Olímpicos. Tudo o que ela tem a fazer é dar-me luz verde.” Tareq está disposto a recebe-la e a treina-la em São Francisco (EUA), onde vive e é proprietário de um ginásio. Quem sabe tendo em vista os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016).
Documentários:
“Fight like a man!” (2011), sobre o regresso de Tareq Azim ao Afeganistão, em 2007, e o início dos treinos de boxe feminino.
“The Boxing Girls of Kabul” (2011)
Artigos complementares:
"I'll proudly fight for women and Afghanistan", The Guardian, 11/03/2012
"Una púgil indomable", El Mundo, 05/06/2012
“A primeira vez que bati em alguém foi na minha aldeia. Tinha 11 anos. Bati no meu primo. Ele disse que eu atingi-o com tanta força que devia tornar-me uma boxer!”, recorda Sadaf.
Nascida em 1994, começou a treinar boxe após Tareq Azim, vice-presidente da Hope of Mother (HOM), ter lançado, em 2007, a Federação Afegã de Boxe Feminino. Cerca de 25 raparigas começaram a comparecer nos treinos, que decorriam no Estádio de Cabul, o local onde, quando os talibã estavam no poder, muitas mulheres tinham sido vítimas de execuções públicas.
Sadaf e a irmã Shabnam, um ano mais velha, foram das primeiras alunas. “A minha família fugiu para o Irão durante o regime talibã, mas eu ouvi que as mulheres eram mortas aqui. Às vezes, quando estou a treinar sozinha dentro do estádio entro em pânico”, confessa Sadaf.
Inicialmente, o pai estava relutante, preocupado com o facto de um desporto tão masculino pudesse pôr em causa o futuro familiar das filhas. Que homem iria querer casar com uma boxer? Porém, o entusiasmo das filhas pô-lo… ko.
“Ver uma mulher afirmar-se num mundo tão masculino como o do boxe é inédito na história de qualquer república islâmica”, refere Tareq, o primeiro treinador das duas irmãs. “Não treino estas jovens para que se tornem assassinas. Ensino-as a desenvolver confiança e a pensar: ‘Se ele consegue fazer, eu também consigo!’”
A mensagem de Tareq foi apreendida. “Através do meu combate, quero transmitir ao mundo a mensagem de que as raparigas afegãs não são vítimas”, diz Sadaf. No Youtube, ela deixou-se deslumbrar pelos vídeos de Laila Ali, filha do campeão Muhammad Ali e, ela própria também, praticante de boxe nos EUA. “Eu queria provar que as raparigas afegãs podem fazer tudo o que fazem as raparigas do Ocidente”, diz a afegã.
Confrontada com a reprovação social, a condenação religiosa e mesmo as dúvidas de alguns treinadores, Sadaf venceu todas as batalhas domésticas. A sua determinação passou fronteiras e, no início de 2012, recebeu um “wild-card” – um convite especial para casos em que a qualificação não seria possível – para competir nos Jogos de Londres. “Tenho a certeza que vou ser atingida como um saco”, disse. “Só não quero ser atirada ao chão e que me batam depois de me derrubarem. Seria embaraçoso para mim e uma desonra para o Afeganistão.”
A Associação Internacional de Boxe (AIBA) deu-lhe a mão e levou-a para o Reino Unido para que, durante duas semanas, frequentasse um campo de treino na Universidade de Cardiff. “Independentemente de eu ganhar ou não uma medalha, serei um símbolo de coragem assim que eu pisar o ringue”, disse Sadaf.
Esse momento, porém, nunca chegaria. A 18 de julho de 2012, a AIBA decidiu-se pela não participação de Sadaf nos Jogos de Londres, temendo que a afegã pudesse não aguentar combates contra adversárias mais experientes e melhor preparadas.
Quando o sonho de Sadaf caiu por terra, Tareq Azim sentiu-o como que se de o seu próprio sonho se tratasse. “Agora, o mais importante é mantê-la motivada, manter o programa em funcionamento e manter a esperança para aquela nação. É isso o que vamos fazer! A Sadaf quer uma oportunidade para participar nos Jogos Olímpicos. Tudo o que ela tem a fazer é dar-me luz verde.” Tareq está disposto a recebe-la e a treina-la em São Francisco (EUA), onde vive e é proprietário de um ginásio. Quem sabe tendo em vista os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro (2016).
Documentários:
“Fight like a man!” (2011), sobre o regresso de Tareq Azim ao Afeganistão, em 2007, e o início dos treinos de boxe feminino.
“The Boxing Girls of Kabul” (2011)
Artigos complementares:
"I'll proudly fight for women and Afghanistan", The Guardian, 11/03/2012
"Una púgil indomable", El Mundo, 05/06/2012
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