segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Mina Wali, uma afegã lutadora


Mina Wali nasce em Cabul em 1961. Filha de Shaw Wali Khan, o primeiro comandante de jatos da Força Aérea afegã e assessor do rei Zahir Shah, vê a sua vida ruir quando, em 1973, um golpe liderado pelo príncipe Daud depôs a monarquia e instaurou a república no Afeganistão.

Shaw Wali Khan
A família de Mina não escapa às retaliações e, um dia, o pai é levado de casa, para nunca mais voltar. (Ainda hoje, Mina procura respostas em valas comuns dispersas por todo o país.) A mãe, professora, começa a receber ameaças. Casada e com uma filha nos braços - a bebé Dina -, Mina opta por abandonar o país, em 1979, o mesmo ano em que os tanques soviéticos invadiram o país.

Vive três anos na Alemanha - com o estatuto de exilada política. Em Munique, nasce Tareq, o seu segundo filho. Segue-se a decisão de emigrar para os Estados Unidos, onde já viviam alguns familiares. Em solo norte-americano, haveria de nascer Yossef, o terceiro e último filho.

O 11 de setembro e as memórias do passado

Nos Estados Unidos, Mina obtém o conforto e a tranquilidade a que estava privada no Afeganistão. A 11 de setembro de 2001, testemunha o que nunca julgou ser possível acontecer naquele país. "Foi uma grande dor ver mães à procura dos filhos desaparecidos. Sei o que isso é porque me lembro de mim e da minha mãe à procura do meu pai no Afeganistão." Desde 1979, Mina perdera 37 familiares.

Após o ataque às Torres Gémeas, e a consequente decisão dos EUA de retaliarem sobre o regime talibã - que dava guarida a Osama bin Laden e à sua Al-Qaida -, Mina teme pelo seu povo. "Foi um sentimento de devastação. Quase tive um ataque de coração por tudo o que aconteceu no 11 de Setembro e o que se seguiu no meu país. Fez-me reviver velhas memórias muito dolorosas." Decide voltar ao Afeganistão, apesar dos protestos do resto da família, o que se concretiza em 2003.

Em solo afegão, emociona-se com o regresso - "às minhas raízes, ao meu sangue" - e choca-se ao constatar a destruição do país após décadas em guerra. Sente que tem um papel a desempenhar no futuro do Afeganistão e dedica-se à ideia de construir uma escola nos terrenos que possui, na província de Nangarhar, fronteira ao Paquistão. "As crianças no Afeganistão precisavam de mim. Nos EUA há muito bons professores mas no meu país natal não havia nada. Achei que podia fazer a diferença naquele país."

Resposta pronta da AMI

O sonho começa a concretizar-se quando Mina conhece um militar português, Octávio Vieira, em Cabul. Ela geria uma distribuidora de produtos informativos que trabalhava para a NATO. Ele estava destacado no departamento de operações psicológicas da ISAF (a coligação da NATO no Afeganistão). A empatia foi imediata. "Surpreendi-me com a delicadeza daquele militar, pois a minha experiência como filha e descendente de uma família de militares tinha-me mostrado o quão austeros normalmente são."

Mina fala-lhe do seu sonho e Octávio acredita que é possível realizá-lo. De férias em Portugal, o militar apresenta o projeto ao Presidente da AMI, Fernando Nobre, que se predispõe a ir ao Afeganistão avaliar as condições no terreno. A visita acontece em 2006 e a decisão da AMI em financiar a obra é imediata. "Tive esperanças que fosse uma ONG americana a apoiar este projeto mas o apoio acabou por vir de Portugal", refere Mina.

Uniformes novos para dias de festa

A escola começa a funcionar em 2007 (apesar da inauguração oficial apenas acontecer em 2008). Os alunos distinguiam-se dos demais pelos uniformes azuis oferecidos pela escola. "Quando regressei ao Afeganistão comprei uniformes para todos, mas não os quiseram usar durante umas semanas. Não percebia porquê. Pensei que fosse vergonha. Mas pouco depois do começo das aulas, veio o Ramadão e a festa que se segue, a 'Id, que se celebra vestindo algo novo. E todos compareceram com os uniformes porque era a única coisa que tinham de novo há muito tempo."

Com a escola em funcionamento, Mina sente que o seu regresso ao Afeganistão começa a ser recompensado. "Fui criada por um pai que fez história no Afeganistão, como o primeiro comandante do caça Mig 21 e assessor direto do nosso rei Zahir Shah. O meu pai foi levado vivo pelo regime comunista que invadiu o Afeganistão na década de 1970 e nunca mais vi ou ouvi falar da sua vida ou morte. O seu último pedido aos meus irmãos mais novos e a mim foi para que nunca virássemos as costas à nossa nação. Eu prometi, e fico feliz por isso."


Vídeos
Como tudo começou, por Mina Wali, 27/05/2011



Depoimento de Mina Wali, recolhido pelos militares norte-americanos,13/01/2009


Artigos complementares:
  
Mina Wali Azim, Devolver o Futuro, Scribd
Mina Wali - Uma história de perseverança, AMI Notícias, 2º trimestre de 2008 (anexo 1)
O olhar de uma afegã que regressou ao país, Diário de Notícias, 18/07/2008 (anexo 2)


ANEXO 1



ANEXO 2



Sem comentários:

Enviar um comentário